Thursday, October 05, 2006

dura lex sed alex

por aqui um tal que faz-me comentários. meio desconfiado de que é tipo semi-sádico. gozador. aparenta propósitos de incentivar-me a cometer mais crimes. mas sabe-se lá que mente tem de propósitos. é um gente de carne e osso. e isso é tão suspeito quanto também o sou. mesmo quando não sendo.

corruptor de maiores. passa cuspe em sua labia sim. vai tentando convencer-me de que é possível um mero escritor vez em quando
piar em mim.

quase diariamente me visita. apertou o passo. desde a semana passada, todos os dias. hábito que se continua, vira víço. inominável. qualquer coisa de quase baitôlagem, literária.
as vezes, confesso-lhe, até tenho vontade de dizer-lhe xõ! passa fora! sai! vicio. mas já estou lhe começando quase pelo fim nesta breve história de escritas. e a vaidade alimentada o vai apreciando, sem autógrafos. apesar de ter lhe dado confiança algumas vezes.

por isso todas as manhãs leio seus comentários. e escuto suas batidas à porta, chamando-me para mais uma incerta da lida.

da minha casa da escrita, frestas de porta e janela, mui recém revelada. vem da cumeeira sentimentos ruminantes. sem estuque, folhas secas estaladiças sobrepôem-se a meus passos. de memória levanto da cadeira de balanço bem no arco dos seus guinchos. tempos duros do meu avõ. daquela que marcam costas, de fios que sempre partem quando a coisa aperta. abro portinhola e não vejo nada do que ele diz que lê. nem na rua, nem dentro de casa. tudo instinto de um vazio só. sobra a vista de quintal pra ribanceira.

então volto pra dentro do balanço e produzo mais folhas e folhas de papel em branco sugadas pela luz da quase fantamasgoria de volta à cumeeira. quase compondo um tipo, meio de mágico meio de trágico, lá pelas tantas da madrugada, deixam de ser ecrã e tornam-se derramadas da mesa ao chão, no que logo-logo tem serventia na brincadeira de bolinhas rarefeitas da literatura em círculos produzida, e que jogo a cachorros e gata, formas de vida, que ela, a escrita, conhece em mordidas.

cachorros, gata de dentro, e gatos de fora, que são três, contemplados com intevalos esparsos, porém metódicos, das benditas para eles pausa na escrita. sabem que esta é a única utilidade deste exercício diário de nem sequer semestre. estreitar-mo-nos juntos por mais tempo possível. apesar de já tê-lo cronometrado para a extinção no grande livro de todas as escritas. onde todos os garranchos acabam em branco no correr do tempo. folhas mortas, por mais garatujos que as façam conter.

e assim, amargo-doce, se lhe desdigo, escrever no entanto, pra quê? se não conseguimos dar vida para os únicos personagens que realmente importam? e que realmente nos fazem companhia, até mesmo quando não merecemos? produzo-lhes apenas inútil jogo de palavras, que não conseguirá prolongar-lhes nada mais que uma cusparada certeira da anti-vida, que adianto-lhes já não anda nada divertida para nenhum de nós.

então, quando o tal alex amanhã bater-me a porta, vou soltar-lhe os cachorros e gatos em cima. quero ver como ele se sai, como se porta nesta caca de vida escriturada em que acabou aparafusado nas anotações dos meus guardanapos.

fundilhos à mostra, vou fazer-lhe apupado, acuado, meninada a gritar pega-pega, vozes de pés-de-cabra a lhe praguejar. anciâs a brandir-lhe o cacete a torto e a direito com pombos a lhe defecar. e até burros sem rabo a lhe coicear. escárnio da queda, com sorte não lhe cai pedaço arranhado. e, principalmente, quando o capenga, vira-lata tinhoso imaginário, construido a partir de romário, o pequeno cão de perna dura, marrento como ele só, que assim como apareceu um dia sumiu, como tudo há de ser na vida seja escrita ou não, em vez de dentar-lhe a bunda, mijar-lhe o pé rapado de admirador.

aí, talvez ache que realmente estou me tornando algo mais que um quatro paredes de escritas. e, se assim for, levo a cadeira de balanço para a calçada, e aposento de vez o compurscador.

(visto assim também, talvez o alex não passe nunca mais por aqui. embora não se vestisse na pele de bajulador. mas, ainda se assim, se não fosse ele, o que seria de mim agora, escritor?)

1 comment:

Alex Camilo said...

Toc, toc, toc. Ô de casa!!!