Friday, October 06, 2006

anybody there?

toc! toc! toc! ô de casa!!!

na porta de pau ôco, morada de há muito abandonada, colônia de cupins lhe partiram o coração, as batidas foram morrendo sem resposta.

prenúncio do que havia lá dentro de vazio? não se sabe. nem alex sabe. quem sabe o que se passa lá dentro do que quer que seja? nem o dentro do dentro sabe. quanto mais o de fora. mesmo que nem sempre esteja por fora.

estes momentos de segundos sempre parecem horas até que houvesse resposta, se resposta houvesse. nada. silêncio em ecos, de nada adiantaria bater novamente.

rente a testa, esboço do que pareceria ser um bilhete, fui ali e já, presumiria-se, volto. mas como voltar se ele nem sequer tinha ido? se ele nem sequer tinha saído. se ele nem sequer tinha sido?

mão batida na porta lembrava sinal do black power. havia musgo na porta. se havia musgo não havia solidão. pois havia ali um sinal de vida, ainda que esverdeada. uma punheta de vida, vida punheta mais vida, quiçá um punheta da imaginação. mas isso foi antes do silêncio substituir a solidão.

casa de poente levava com o sol todas as tardes, fazendo quase ferver pote d´água servilmente colocado para matar a sede de companhia do inacompanhável. fazia isso várias vezes ao dia, únicos momentos em que era visto em longas conversas com os gatos da rua. diálogos de ronronados, miados que ele respondia numa língua ora imaginária, ora bem real. entendia e fazia-se entender, julgava sem pressupor outras traduções. mas tinha um princípio:só discutia com os gatos as coisas boas da vida. nada de mazelas ou chorumelas. desgraças nem pensar. ainda que muitas vezes elas estivessem à vista nas sete vidas multiplicadas que os gatos lhe traziam. com gatos não discutia nem filosofia barata. amenidades o tema da conversa de sempre. era o que precisava para dissipar-lhe todas as gasturas das suas incompatibilidades com o restante da vida que se puia a cada dia que lhe morria um bichano.

e punha-lhe nomes santos a todos. de acordo com a sua não religião. broken, era o preto e branco tigrado. rabo quebrado desde pequenininho. filho do caôlho. gato surrado. crecas à beça. feridas crõnicas em ouvidos abertos para sempre mas senhor da rua e de todas as noites até a do seu sumiço.

princesinha, a sua preferida de rabo flocado e traço angorá no preto e branco de gata de rua. aquela que cantava minuetos a sua passagem e que, breve passagem, amanhecera impávida a poucos metros de sua casa. contaria um gatil se fosse descrever todos os miados que lhe emocionavam sensivelmente. batmanzinho que mudara de rua, aquele que sempre estava de rabo em pé ao seu chamado. rabão, que outro nome dera mas esquecera e ficou este. cara escarrada e esculpida da face e dos trejeitos de princesinha que a substituira e de igual modo mui breve vida. e havia margarida. a mãe de todas. oito partos se contou direito. a gata que fazia correr todos os cachorros de carreteiros. fosse de dia, fosse de madrugada, e que agora debilitada, corria ao menor ruído, sinais de que andava sétima vida e já com ora marcada. ainda a irmã de princesinha. arisca, que nunca por nome teve, mas nome dado por agora. e que assim era, menos no dia do parto em que lhe deixou massagear a barriga de filhotes que só conheceria um, também vita breve. foi-se como todas as coisas vão-se com o tempo dimuido nesses tempos que anunciam que a ampulheta não pode mais ser virada.

toc! toc! toc!, sequer um miado. se for esperto alex já sabe o que isto denuncia.

o pote de há muito vazio, pequeno detalhe passado em branco, salvo quando o pisou ao voltar-se para ir embora.

do pote ressecado a história trincou-o na hora.

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