Monday, July 09, 2012

almoços de domingo


já algum tempo, nos domingos, almoço em paz. mcchickens. genérico que seja ou original. e pronto. de sobremesa, café em copo e vontade de fumar. antes da saída, em meio as meias mordidas, altura em que me lembro odeio maionese, de soslaio miro a testa franzida das atendentes e cozinheiras que penso em reclamações - me consegue um pouco mais de ketchup ou vai dizer que só tem mostarda? - não sei contentes em trabalhar aos domingos. também dariam graças a deus? que elas complementam com muito sachês de molho fora, aquele filho da puta, de trabalhar aos domingos para não ter de almoçar em casa? 


domingos tem um certo ar de prisão após a revista da semana. foram-se as armas e as drogas. resta o almoço em família para a gente se embriagar de crime. de sobremesa o faustão. a sorte é que a pena não é perpétua. mas é longa como o crochê das mágoas da vovó sobre as memórias do vovô que enfezado se mandou de casa e foi morrer de infarto num puteiro enfiado em pleno cu de uma adolescente. o retrato do meu vô foi retirado então da parede e naquele exato lugar ficou a marca, onde o bolor do mofo lembra o esperma da vida que ele despejou fora para não morrer ensimesmado dentro de casa como paio, um chouriço, outra denominação. as sobras das conversas do almoço de domingo todo mundo já sabe como reaproveitar. são servidas fritadas ao azedo que requentadas podem durar até a terça feira. isso se as vizinhas não aproveitarem o óleo para feitura do empadão de galinha com o destino de suas filhas, que diga-se de passagem são uns cu de bostas. 


almoço fora agora todos os domingos. mas do empadão ou da fritada, elas não escapam. nem eu. nem você. 

Saturday, March 31, 2012

anti morten

a morte já me cutucou com pressa.como destesto que me conduzam pelo ombro, refilei: dá licença de eu dar uma espreguiçadela diante da vida?

Saturday, March 24, 2012

o onanista

por acidente, tragédia, dor de barriga ou vento encausado. caiu, tombou, morreu. ai logo vem unzinho qualquer e diante do cadáver sussura para o próximo do lado: a morte é feia.

quem disse? quem viu? quem fuçou a cara da dita cuja pra fazer tamanha afirmação? quem o fez não disse nem que sim, nem que não. tava de sacanagem? vai lá se saber. mas é fato de quem viu não disse nada. mesmo os suspeitos que dizem que foram e voltaram. falam de luz no fim do túnel. mas desde quando luz no fim do túnel é a cara da morte? l uz no fim do túnel é a cara do dois irmãos.

porra, mas que mania de dizer que a morte é feia; quando o que e feio é o presunto ou a presuntada. comigo não rola esta história. quer saber, pra mim a morte não é feia não. acho que rola qualquer coisa nem que seja de coxas finas, cotovêlos limpos, nariz discreto mas empinado. qualquer coisa de beleza num certo mistério que quase todo mundo vê como história de terror mas que como toda história de terror toda a gente tem curiosidade de saber qual é. mas ninguém quer enfrentar assim de peito e olhos abertos. e muito menos de braguilha aberta. deveriam? sei lá, cada um é cada um, e cada um tem a sua morte pairando sobre a cabeça nos assuntando feito largatixa. e de vez em quando, ela aciona o bodoque. nós não já fizemos isto com elas quando crianças?


não fico em cima do muro. não acho que a questão seja urtiga. questiono, ah! questiono sim, que a morte seja feia ou tão feia assim. ainda vou tirar a dúvida. mas não tenho pressa. quer dizer, acho que ela é que não tem, ainda. temos outras prioridades ao que parece.

mas cá pra nós: duvido que, seja qual for a cara dessa dona, ela não valha uma punheta.
se não, porque será que todo mundo que tem pau, quando morre, morre de pau duro? 
a morte nós dá uma bolinada antes de nos botar de pés juntos? é um ocaso a se pensar. e ai vem o meu único receio: que nesta posição ela me aperte os ovos enquanto possa ainda tê-los.





 

Friday, March 16, 2012

replay
















mal acordou e mandou bala na família. sobrou pra diarista e vizinha abelhuda. pro gato banguela, passarinho bicudo e cachorro lelé. depois foi ver tv e ficou puto: noticiário andava muito violento.

Thursday, February 16, 2012

toco em papo babaca de arquiteto


- eu quero ser o niemayer das tuas curvas, sussurou o arquiteto formado em escola de bola fora.

ela deu de ombros e retrucou. - arquiteto? você também? então devia saber que niemayer não é nem um pouquinho funcional. é mais ou menos como você.

- olha bem para o monumento aqui, não perdeu a chance de cravar mais uma na testa.

menos, menos. parece bonito por fora mas em matéria de interiores não serve nem pra metralha.

e dito e feito, a mestre de obras voltou ao traçado original do seu trabalho..

Sunday, January 29, 2012

coisa de pobre ou deslize reacionário

mamãe! quando eu crescer quero ter um câncer! exulta o piá, o guri,o curumim,o pirralho, o puto,o moleque, para espanto da mãe que se pela em deus, na periferia de são paulo.

mas só se for para ser tratado no sírio, arremata; para alívio materno que solta a respiração enquanto concomitantemente afaga os cabelos em pûs daquela criaturinha abençoada.

(deus que tudo assiste, não é assim que dizem os pastores? conclui então que aquele espectro de homem, com braços e pernas em constantes saltirares estroboscóspicos decididamente vai longe - um dia ainda acaba presidente, ventila a possibilidade garatujando no bloco de anotações). 

e a vida segue adiante. o menino esfregando melecas na parede lustrando as cerâmicas. o deus dos tornados, que sequer imaginamos em senões assim tão faceiro, dá mais dois passos adiante, cuspindo catarro no tietê para não se mostrar impressionado com a visão de futuro que aquela alma ainda em pimbolim tem da epifania em sociedade.