Sunday, October 06, 2013

é como vovó já dizia


olhos marejados, minha vó olhou para suas pernas marrons de erisipela e disse-me num tom de tristeza que não saberia anos a quantos iria me marcar: -  estas pernas já foram tão bonitas.

anos passados, olho as minhas. e compreendo algo do todo que me escapou naquele dia, muito embora levemente sentisse o peso, não sei se das palavras ou das pernas.

sei hoje que não era de estética que minha vó falava. era das sombras da morte; que já lhe subiam por entre as veias dilatadas para nunca mais voltar.

que será da minhas, já que nem posso aguar que já foram belas.

Sunday, June 02, 2013

tardes de alpendre

do meu casebre, de contas pagas, banhos frios, e moedas catadas nos forros das bermudas, eu observo os condomínios de carnês e as mansões de prestações, com suas guaritas e outras mazelas. nelas, passarinhos e outros animais de duas ou mais patas que lá vivem, vivem escravos as gaiolas que cada vez mais se tornam alçapões.

no meu casebre, não existem gaiolas. passarinhos e animais de todo o tipo entram e ficam à vontade e assim também se sentem para ir embora. enquanto não, dividimos migalhas de pão. juntamente com a brisa, uns assobiam, outros latem, outros miam, outros simplesmente espreguiçam,a canção da liberdade que eu tento não desafinar com meus assobios que riem do meu bico.